Sufoco sem fim
Como se já não bastassem alguns protocolos sanitários duros que enfrentamos neste momento de retomada da economia em Belo Horizonte, entre eles a permissão de apenas seis pessoas por mesa nos bares e restaurantes, além, obviamente, da queda no faturamento provocada pela pandemia, temos sofrido com o reajuste de itens essenciais para o nosso pleno funcionamento: a energia elétrica, que há pouco tempo foi assunto desta coluna, o gás de cozinha e, principalmente, os alimentos.
As geadas e ondas de frio que atingiram o Brasil em julho, consideradas as mais intensas dos últimos cinco anos, vem não só tirando os agasalhos dos nossos guarda-roupas como também batendo de forma amarga e cruel em nossos bolsos. Com áreas de cultivo agrícola diretamente afetadas por massas de ar polar, os preços de alguns itens dos nossos cardápios vêm subindo assustadoramente. As hortaliças e batatas, por exemplo, encareceram mais de 10% nas últimas semanas, segundo dados da Confederação Nacional da Agricultura. E o alto custo não fica só nas plantações: a carne bovina registra alta de 35%, acompanhada pelos suínos (26%) e frango (18%).
Uma pesquisa inédita da Revista Exame, inclusive, mediu a percepção dos brasileiros em relação à alta de preços. Para equilibrar o orçamento, 63% mudaram os hábitos alimentares. Mais da metade (52%) dos entrevistados acredita que a inflação não vai dar trégua e os reajustes vão continuar até o final do ano.
No nosso caso, o cenário é bem mais melindroso porque nos obriga a repassar os custos para o consumidor final, mesmo que paulatinamente, o que não é nada interessante neste momento em que precisamos nos reerguer. Essa reestruturação, por sinal, é outra complexidade com a qual nos deparamos: só para vocês terem ideia, estudos apontam que o setor de bares e restaurantes precisará de dois a cinco anos para conseguir pagar suas dívidas, (entre empréstimos e impostos parcelados ou atrasados), e mais de duas décadas (duas décadas!) para refazer o patrimônio que foi desfeito porque muitos empresários tiveram que abrir mão de seus bens pessoais para continuar com o comércio e os funcionários.
Resumindo: quando, a duras penas, nos desvencilhamos da areia movediça da pandemia, que nos afundou durante 17 meses, somos surpreendidos com outra armadilha desse deserto inóspito que atravessamos. O oásis, realmente, vai aparecer na caminhada? Essa é a pergunta que faço todos os dias.